Semanada ou mesada: o que é ideal para as crianças? Quando começar? Quanto pagar? Vale suspender?
Dar às crianças uma semanada ou mesada pode ser ferramenta de educação financeira. Esse dinheiro não deve ser destinado à compra de itens essenciais para a sobrevivência da criança, como material escolar e comida, mas para desejos pessoais, como guloseimas, brinquedos, figurinhas. É o que explica Priscila Rossi, psicóloga e idealizadora da Escola da Educação Financeira Infantil:
— Ela deve compreender que o que está sob responsabilidade dela não será comprado pelos pais e vice-versa. Assim, se ela gastar todo o dinheiro no supermercado no dia em que recebeu, terá que esperar o próximo pagamento para fazer outras compras.
Sem tirar o protagonismo dos pequenos nas decisões, os responsáveis devem ser guias nessa dinâmica. Promover conversas leves na rotina sobre o tema e acompanhar a gestão da verba. Rossi sugere o método Mesada Consciente, com a utilização de três cofrinhos pelas crianças:
— Um cofrinho para consumo consciente (70%), um para metas (20%) e um para doação (10%). Essa divisão ajuda a criança a visualizar diferentes finalidades para o dinheiro e valores como generosidade, responsabilidade, empatia e planejamento.
E os avós também podem ajudar na educação positiva. Aquele dinheirinho enrolado na mão, que virou meme nas redes sociais, pode ser dado aos netos junto a estímulos para integrá-lo à mesada ou semanada recebida.
— E tem que ser evitado usar o dinheiro como compensação emocional: ‘Ah, o vovô te ama... toma esse dinheiro’. A criança precisa associar o afeto ao afeto, não ao consumo, pois é um caminho perigoso — ressalta Thiago Godoy, especialista em educação financeira e CEO da Papai Financeiro.
Semanada ou mesada?
Começamos sempre com a semanada, seja qual for a idade da criança, para a aprendizagem de como lidar com o dinheiro e tomar decisões com ele. Além disso, quanto mais nova for a criança, mais dificuldade ela terá em compreender períodos longos de tempo.
Quando começar?
Por volta dos seis ou sete anos, quando a criança já entende as operações básicas de soma e subtração. O importante é que a mesada venha acompanhada de orientação.
Como definir o valor?
O ideal é que a mesada permita que a criança tome pequenas decisões. Não existe valor fixo, mas uma base é 1 real por idade da criança por semana. O valor pode progredir conforme o amadurecimento e as responsabilidades que a criança vai adquirindo.
Dinheiro em mãos?
Nos primeiros anos, sim. O dinheiro físico ajuda a criança a compreender a finitude. A conta digital (vinculada aos pais, para monitorar movimentações) pode ser introduzida por volta dos 10 ou 11 anos, desde que a criança já tenha entendido a dinâmica do dinheiro.
Suspensões são saudáveis?
A mesada deve ser constante e previsível, pois representa um espaço seguro para aprender a administrar recursos e fazer escolhas. Não deve ser moeda de troca por bom comportamento ou boas notas. Quando o dinheiro é associado à punição ou recompensa, ele deixa de ter um caráter educativo.
Quando intervir?
A criança precisa ter clareza de que a mesada é uma ferramenta de aprendizagem e que os pais vão intervir sempre que for necessário. Por exemplo, se ela está usando todo o dinheiro para comprar doces e, como sabemos, isso não é um hábito saudável, deve ser feita uma intervenção.
Escolha do presente pode ser lição
Para não correr o risco de errar no presente, há quem prefira dar dinheiro aos pequenos. A ida às compras com as crianças, para gastar essa verba recebida nos próximos dias, é uma oportunidade de aprendizado para elas.
— É uma oportunidade de mostrar que o presente não é algo trivial. Ela vai perceber o que está dentro do orçamento, o que não está... que dá para comprar dois presentes de determinando preço, mas outro está mais caro do que ela programou gastar — diz Godoy.
Essa experiência não precisa ser, no entanto, reservada a datas comemorativas. Levar a criança junto na ida ao mercado torna a atividade mais trabalhosa, mas vira uma aula poderosa, lembra o especialista:
— É importante programar essa experiência de forma educativa. Antes, definir um orçamento, fazer a lista do que vai ser comprado, comparar preço. Quando for ao mercado, mostrar o preço e o que é promoção. Eu fiz muito isso com a minha filha, levava na área de coisas a vencer, explicava a validade dos produtos e que dava para a gente comprar coisas mais baratas ali desde que a gente consumisse dentro do prazo.
Outra ideia para o dia é dar à criança R$ 10 para ela gastar. Assim, ela ganha autonomia, conhece limites e entende sobre consequências das suas escolhas, que são pilares da educação financeira.