Alexandre Nero celebra o sucesso de 'Vale tudo' e 'dá uma banana' para os haters: 'Eu me divirto! Estão alucinando'
"Desculpe a cara, acabei de acordar", me disse Alexandre Nero, ao surgir na chamada de vídeo: “Eu precisava tirar aquele cochilinho da tarde... Coloquei o despertador para não perder a entrevista”. Eram 17h da última segunda-feira, 6 de outubro, dia em que o Brasil parou em frente à TV para acompanhar o assassinato de Odete Roitman no remake de “Vale tudo”. Na companhia do elenco da novela, o ator também assistiu pela primeira vez, no “local do crime” — o suntuoso Copacabana Palace —, às cenas de seu inescrupuloso Marco Aurélio e às dos outros quatro principais suspeitos pela morte.
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“Não perguntei aos colegas como foram as gravações deles. Prefiro me surpreender. Acho um crime descobrirem e contarem o culpado antes de ir ao ar”, afirma o curitibano de 55 anos, apontado como o “malvado favorito” da vez ao temperar com humor e uma boa dose de sedução a personalidade controversa do executivo da TCA.
Nesta conversa com o EXTRA, Nero fala sobre sucesso, críticas, vaidade, família, dinheiro, manias e a merecida pausa após o fim das gravações:
“Preciso descansar. Agora não quero ouvir falar de mais nada que não seja cama, praia, música e livro”.
O ator Alexandre Nero, intérprete de Marco Aurélio no remake de "Vale tudo", em ensaio para a Canal Extra
Foto: Priscila Prade/ Tratamento de imagem: Mugiu Magenta/ Figurino: Karen Brusttolin/Assistência de figurino: Maria Dom/Visagismo: Fernando Ocazione
Rolou alívio ou vazio após a última cena?
Alívio. Foi uma missão cumprida e comprida. É como atravessar um oceano num transatlântico. Fazer novela é um peso grande, especialmente para autores, diretores e elenco com personagens maiores. A gente fica na vitrine, tomando pancada e, eventualmente, elogios. Está todo mundo exausto, física e mentalmente.
Marco Aurélio repercutiu tanto quanto o Comendador, de “Império” (2014)?
Nada será como o Comendador. Ele está num outro patamar, foi pra mim o que a Odete Roitman está sendo para a Debora Bloch. Sendo que há uma década não havia tanto o poder do celular e do streaming, as pessoas estavam ainda mais ligadas na TV aberta. Mas, de todos os personagens que fiz depois do Comendador, o Marco Aurélio chega próximo na repercussão nas ruas.
Qual foi o comentário mais curioso que ouviu?
Nunca me diverti tanto numa novela em relação aos comentários de internet. Como eu dei risada com os memes! Inclusive com os haters. Porque as pessoas perdem a mão, qualquer coisa é motivo de falar mal. Estão alucinando (risos). Um fio de cabelo fora do lugar vira sacrilégio. Não acho que as críticas tenham que ser ignoradas. Quando pontuadas com gentileza e embasamento, são relevantes. Mas a maioria beira o absurdo.
Concordou com algumas?
Depende... Crítica, todo mundo tem. Eu tenho, o diretor (Paulo Silvestrini) tem, a Manuela (Dias, autora) deve ter. A gente não é robô, pelo amor de Deus!
O ator Alexandre Nero, intérprete de Marco Aurélio no remake de "Vale tudo", em ensaio para a Canal Extra
Foto: Priscila Prade/ Tratamento de imagem: Mugiu Magenta/ Figurino: Karen Brusttolin/Assistência de figurino: Maria Dom/Visagismo: Fernando Ocazione
Acha que o remake foi um sucesso?
Eu acho! Gente que não via novela há muito tempo passou a ver, criou grupos de WhatsApp para falar sobre as tramas. Pessoas próximas, que nunca tinham falado de novela comigo, estão viciadas. O “monocromático” virou um inferno na minha vida (risos). Todo mundo me marca nas redes sociais. Não tenho dúvida de que é sucesso de repercussão. Em relação a números, não posso dizer, não entendo. Mas eu, pessoa, meço pelo burburinho.
Você gravou mais de uma versão de final?
Não posso falar muito, só que a Manuela escreveu de uma maneira muito criativa. Então, qualquer um desses cinco pode ser e pode não ser o assassino. Não perguntei aos colegas como foram as gravações deles. Prefiro me surpreender. Meu sogro, que é um dos viciados em “Vale tudo”, me pressionou: “Quem matou Odete Roitman?”. Eu brinquei: “O senhor quer mesmo saber? Posso contar...”. E ele disse: “Não, não quero”. Acho um crime descobrirem o final e contarem antes de ir ao ar. Estraga o entretenimento de milhões de pessoas.
Para quem Alexandre Nero daria uma banana?
Pra quem dá bananas diariamente pro Brasil. Como a maioria do Congresso, que acha mais importante se blindar dos crimes que comete do que investir em melhorias pro povo.
Você já cogitou deixar o Brasil, morar fora?
Sim, muitas vezes. Não só por segurança, mas por desacreditar no país, que tem um sistema escravocrata. A gente está acostumado a diferenças sociais abissais. Políticos e poderosos, que deveriam ajudar a mudar isso, travam tudo. Eu fico cada vez mais desesperançoso, penso que não vai ter jeito, não.
O ator Alexandre Nero, intérprete de Marco Aurélio no remake de "Vale tudo", em ensaio para a Canal Extra
Foto: Priscila Prade/ Tratamento de imagem: Mugiu Magenta/ Figurino: Karen Brusttolin/Assistência de figurino: Maria Dom/Visagismo: Fernando Ocazione
Marco Aurélio pratica assédio moral com os funcionários. Você já se pegou numa situação assim, seja como assediado ou assediador?
Esse destrato está ligado a dinheiro. Não é que ele não goste do monocromático porque tem TOC (transtorno obsessivo compulsivo). Quantas vezes ele viu Leila (Carolina Dieckmmann) e Odete monocromáticas e não falou nada? Ele mesmo usa looks de uma cor! Esse homem só é autoritário com quem está abaixo dele financeiramente, é uma luta de classes. “Monocromático” é uma expressão para dizer: “Você é mais pobre do que eu, cale a boca”. Acredito que todo mundo, com os seus pequenos poderes, está suscetível a isso. Eu posso já ter escorregado e pedido desculpa, ou não. Não me lembro de um episódio marcante. Se aconteceu, eu era muito frágil ou ainda não tinha maturidade.
Seu personagem tem ambição desmedida. Como você lida com o dinheiro? Qual é o bem material mais caro que adquiriu?
A minha casa. Sinto necessidade desse ninho, que se perdeu quando meus pais se foram (ambos morreram com câncer, quando Nero era adolescente). Minha memória foi se apagando nesse sentido, e quis refazer isso. Lido bem com o dinheiro. Como me f... muito na juventude, hoje sou cuidadoso. Minha maior preocupação é dar a melhor educação para os meus filhos (Noá, de 9 anos, e Inã, de 6, frutos do casamento com a figurinista Karen Brusttolin, de 38) e prover a minha velhice dignamente.
Como é o Nero pai? É difícil educar dois meninos num mundo ainda tão machista?
Sou extremamente grudento, muito afetuoso. Fico beijando, abraçando, falo “eu te amo” mil vezes por dia. Mas às vezes passo do limite, grito... E peço desculpa. Em relação ao machismo, acho que eles estão mais atualizados do que eu nesse assunto. Meu mais velho até me ensina. A escola em que estudam tem educação antirracista e antimachista. Aqui em casa, o que eu posso fazer sempre é alertar, dar o exemplo. Eles veem a mãe tomando as decisões e trabalhando tanto quanto eu.
Vocês assistem à novela juntos?
Não... Karen trabalha em teatro, à noite. Chega tarde. E a gente não acha legal mostrar a novela aos meninos nessa idade. Se veem papai beijar mulheres, ficam meio assim, temos que explicar.
O ator Alexandre Nero com os filhos Noá e Inã
Reprodução de Instagram
Mesmo não sendo indicado, muitas crianças assistem a “Vale tudo”. Você se dá bem com o público infantil, celebrado neste 12 de outubro?
Nunca tirei tanta foto com criança na minha vida! É inacreditável o tanto de pai que chega para mim pedindo para eu mandar vídeo porque o filho me adora. Os meus contam que os amiguinhos assistem à novela. Nas festinhas deles, a garotada vem falar comigo. Antes de Noá e Inã, eu não sabia nem gostava muito de lidar com crianças. A chegada deles me obrigou a desenvolver essa comunicação. Mas é do meu jeito: não sou fofinho, sou meio brucutuzão. Faço o mal-humorado, o ogro. “O que é que tá acontecendo aí, cara?”. Eles vão entendendo a brincadeira. A Luara (Telles), que interpreta a Sarita, também gosta do meu jeitão. A gente se dava muito bem nos bastidores.
Você tem uma sobrinha que seja sua paixão?
Eu tenho duas irmãs e alguns sobrinhos, mas são todos adultos. Quando eram crianças, eu não tinha tanta ligação com eles. Nunca fui um tio legal.
Que característica de Marco Aurélio é mais evidente no Nero?
Ver graça no mau humor. O Marco Aurélio não se dá conta disso, é um grosseirão. Mas eu, interpretando, faço esse mau humor chegar às pessoas em tom de piada. É o famoso “malvado favorito”.
Ele é cheio de manias. Quais são as suas?
Ah, por ser um cara muito esquecido, pego as coisas que tenho que levar comigo no dia seguinte e coloco na porta de casa. Assim eu tropeço nelas e não me esqueço de nada. Também não gosto de dormir com a porta do quarto aberta, fico com a sensação de que tem alguém me espiando. E uso tampões de silicone nos ouvidos. Meus filhos entravam no quarto fazendo uma algazarra danada e eu acordava muito assustado. Agora, pelo menos, o susto é menor (risos).
Alexandre Nero e a esposa, Karen Brusttolin
Reprodução de Instagram
Carolina Dieckmmann brincava nos vídeos de bastidores que estava sempre “esperando Nero” para gravar. Você é pontual?
Imaginei que ela fosse acabar com a minha reputação (risos)... Carol é rápida, e minhas roupas eram mais demoradas para vestir. Sou muito pontual. Inclusive, sofro com isso, por ser um curitibano no Rio. Aqui, atrasar meia hora é normal.
Vocês dois se vestiram de rosa, cor favorita da Aldeíde (Karine Teles), numa das festas do elenco. Tem alguma cor vetada no seu guarda-roupa?
Juro que eu nem me toquei disso quando escolhi o macacão para ir a essa comemoração (risos)... Foi pura coincidência! Eu poderia dizer que não vestiria verde-limão, mas acabei de me lembrar que tenho um terno dessa cor e o usei no lançamento de “A regra do jogo” (2015). Não sou avesso a nada, depende do modelo da roupa e do momento. Já usei muita saia, agora não curto tanto.
Por trabalhar com moda, Karen interfere diretamente nos seus looks?
Só quando peço a opinião dela. Eu adoro moda, vou atrás para me informar. Mas é natural que às vezes eu tenha dúvidas e pergunte: “Você prefere esse ou aquele?”. Da mesma forma que ela pede a minha opinião, e só assim eu palpito.
E esse físico definido? Era uma exigência para dar vida a Marco Aurélio?
Nada! Eu já estava assim há uns seis anos. Estou emendando a quarta novela. Chamou atenção agora porque tem a ver com a imponência do personagem, que fala grosso, é seguro de si, usa roupa cara. Eu sou o mesmo, meu corpo serve aos personagens. Ator pode ficar mais bonito ou mais feio do que realmente é em cena.
Carolina Dieckmmann posa com look monocromático ao lado de Alexandre Nero
Reprodução/Instagram
Tem gostado do que vê no espelho, aos 55 anos? Está mais vaidoso?
A palavra não seria vaidade, mas saúde. Acho que estou no auge da minha saúde, meu corpo nunca esteve tão bonito. Sou um ex-gordinho e estou muito feliz com os meus hábitos atuais: exercícios, alimentação, dormir cedo. Mas o envelhecimento das peças é natural e inevitável. Eu nunca tinha ido ao dermatologista me cuidar, minha mulher me convenceu. Agora eu vou, levo uns choques, renovo o rosto, dá uma luz legal. Fiz barba todo dia nos últimos nove meses, isso machuca muito a pele. Vou deixar os pelos crescerem. É cruel homem ter que ficar sem barba, essa é a nossa maquiagem.
Terá férias, de fato?
Fui chamado pra uns trabalhos, mas pedi para não fazer. Preciso descansar. Sou um workaholic e tenho que tomar cuidado para não ficar doente. Eu já estava mentalmente afetado, já não conseguia decorar os textos. Tenho que me afastar, pelo menos até o fim do ano. Não quero ouvir falar de nada que não seja cama, praia, música e livro.
Planejou viagem com a família?
Vou pra Disney, passar uma semana com as crianças. É uma viagem mais pra eles do que para mim. Isso vai me dar um outro tipo de trabalho (risos). A verdade é que eu não gosto de viajar, me cansa. Descansar, pra mim, é ficar em casa.
Odete Roitman (Debora Bloch) surpreende Marco Aurélio (Alexandre Nero) em 'Vale tudo'
Fábio Rocha/Rede Globo
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