Halloween: nutricionista aponta 5 verdades assustadoras sobre os efeitos do açúcar no corpo da criança (e como evitar os danos) 
          Nesta época do ano, basta dar uma volta em qualquer supermercado para ver as prateleiras repletas de doces de Halloween. A celebração anual e doces são praticamente sinônimos, mas o que todo esse açúcar realmente significa para as crianças? 
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A Organização Mundial da Saúde recomenda que os "açúcares livres" (açúcares adicionados aos alimentos, além dos açúcares naturalmente presentes no mel, xaropes e sucos de frutas) representem menos de 10% da ingestão total de energia e, idealmente, menos de 5%. Isso equivale a aproximadamente não mais do que 10g por dia para crianças de 1 a 2 anos, 14g para crianças de 2 a 3 anos, 19g para crianças de 4 a 6 anos, 24g para crianças de 7 a 10 anos e 30g para crianças com 11 anos ou mais. 
Para se ter uma ideia, um biscoito pequeno contém cerca de 4g de açúcar, um pacote pequeno de doces cerca de 13g e um pirulito individual aproximadamente 10g. Uma boa quantidade de doces coletados no Halloween pode facilmente fazer com que uma criança ultrapasse várias vezes o limite diário recomendado. 
Pais e mães costumam ouvir conselhos bem-intencionados de amigos e parentes sobre picos de energia, quedas de açúcar e noites agitadas. Mas as pesquisas mostram que a maior preocupação não é o que acontece após um exagero pontual, e sim o que ocorre quando as crianças ultrapassam esses limites com frequência. Então, vamos desmistificar algumas crenças comuns. 
1. O açúcar deixa as crianças hiperativas 
Apesar de persistente, esse mito não se sustenta cientificamente. Pesquisas mostram pouca ligação entre o consumo de açúcar e a hiperatividade em crianças. A ideia vem, em grande parte, de um viés de expectativa: quando os pais acreditam que o açúcar causa agitação, tendem a perceber o comportamento dos filhos dessa forma. 
As crianças são naturalmente cheias de energia, e o açúcar costuma ser consumido em festas, na hora dos “doces ou travessuras” e em outros momentos empolgantes, o que reforça o mito. 
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Por exemplo, em um estudo, todas as crianças receberam uma bebida sem açúcar, mas metade dos pais foi informada de que continha açúcar. Esses pais avaliaram seus filhos como significativamente mais hiperativos, embora nenhuma delas tivesse ingerido açúcar. 
2. Picos de açúcar 
A ideia de "pico de açúcar" é outro mito. O açúcar realmente fornece energia rápida, mas o corpo regula rigorosamente os níveis de glicose no sangue, portanto não há uma verdadeira sensação de euforia. Estudos mostram que os carboidratos, incluindo o açúcar, não estão associados a melhorias no humor após o consumo. 
3. Quedas bruscas de açúcar 
Essa afirmação tem um pouco mais de fundamento. Depois de comer doces, o nível de açúcar no sangue sobe rapidamente e depois volta ao normal, e às vezes fica um pouco abaixo do normal. Essas flutuações fazem parte da fisiologia normal e não causam efeitos perceptíveis de forma consistente. 
Em adultos, o consumo de carboidratos tem sido associado ao aumento da fadiga e à diminuição do estado de alerta dentro de uma hora após a refeição, mas esses efeitos variam bastante e geralmente são leves. 
4. “Eles não vão dormir hoje à noite” 
As evidências são mistas. Um pequeno estudo descobriu que crianças de 8 a 12 anos acordaram mais vezes à noite após beberem algo com muito açúcar antes de dormir, enquanto outro, com crianças menores, não encontrou efeitos de curto prazo. No geral, não há provas sólidas de que um exagero pontual em doces afete fortemente o sono. A empolgação, o horário de dormir mais tarde e a agitação social de eventos como o Halloween provavelmente têm mais peso. 
A longo prazo, porém, o quadro é mais claro. Uma meta-análise mostrou que o alto consumo de açúcar em crianças está ligado a menor duração do sono. Outro estudo, com crianças de dois anos, observou que o consumo frequente de refrigerantes, lanches e fast food (geralmente ricos em açúcar) estava associado a mais despertares noturnos e sono de pior qualidade, enquanto aquelas que comiam mais vegetais dormiam melhor. Pena que as crianças não achem cenouras tão irresistíveis quanto balas. 
Além disso, isso pode virar um ciclo vicioso: dormir mal aumenta o desejo por alimentos açucarados, o que leva a um consumo ainda maior de açúcar, que, por sua vez, prejudica o sono. Com o tempo, esse ciclo pode cobrar um preço real. 
5. Se você restringir o acesso deles, eles simplesmente vão querer ainda mais 
Há algumas evidências de que proibir completamente os doces pode fazer com que as crianças os desejem mais — mas isso se refere à proibição total, não ao estabelecimento de limites. 
Na verdade, pesquisas mostram que crianças cujos pais estabelecem limites consistentes para alimentos açucarados não desenvolvem preferências mais acentuadas por doces e, na realidade, consomem menos açúcar no geral do que crianças com pais mais permissivos. 
Os pais têm enorme influência sobre os hábitos alimentares ao decidir quais alimentos ficam disponíveis em casa. Sejamos francos: as crianças não pensam em saúde metabólica, elas apenas sabem que doce é gostoso. Uma noite de exageros no Halloween não causa danos duradouros. A verdadeira preocupação é o consumo excessivo habitual. 
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Dados históricos de pessoas que viveram sob o racionamento de açúcar durante a Segunda Guerra Mundial sugerem que uma ingestão menor de açúcar na infância (e até durante a gestação) está associada a riscos reduzidos de diabetes e hipertensão na vida adulta. 
Estudos modernos concordam: altos níveis de açúcares adicionados na infância estão ligados a maior risco de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e até problemas cognitivos e emocionais, como ansiedade e depressão. E, claro, o consumo frequente de açúcar também prejudica os dentes. 
Dietas ricas em açúcar tendem a ser pobres em nutrientes, o que é especialmente preocupante para crianças pequenas, que têm apetite menor. Quando doces e outros alimentos calóricos e pobres em nutrientes substituem vegetais, frutas, grãos integrais ou laticínios, as crianças deixam de ingerir nutrientes essenciais como vitaminas, fibras e cálcio. Isso se torna menos problemático na adolescência, quando o apetite crescente permite o consumo ocasional de guloseimas, juntamente com uma dieta equilibrada. 
Especialistas explicam o que é mito e o que é verdade sobre o “pico de açúcar” nas crianças
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Dicas práticas para pais e responsáveis 
Antes de sair para festas ou “doces ou travessuras”, sirva uma refeição equilibrada para que as crianças não comecem a noite com fome: o estômago cheio facilita resistir aos exageros depois. 
Para crianças pequenas, pode ser útil estabelecer limites na quantidade de doces que elas podem ganhar, enquanto para as maiores, racionar os doces ao longo de vários dias pode ajudar a controlar a ingestão de açúcar sem que elas se sintam privadas. Acima de tudo, lembre-se de que hábitos alimentares saudáveis são construídos gradualmente. São as escolhas do dia a dia que mais importam, e não uma noite de excessos com doces. 
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Portanto, sim, deixe que aproveitem o Halloween. Um “pico de açúcar” ocasional (real ou imaginado) não é o problema. O que realmente conta é o que acontece em todos os outros dias do ano. 
* Rachel Woods é professora sênior de Fisiologia na Universidade de Lincoln, no Reino Unido.
* Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.