Entenda quais são os próximos passos do acordo entre Israel e Hamas para o fim da guerra em Gaza
Israel e Hamas chegaram a um acordo sobre a primeira fase do plano de cessar-fogo na Faixa de Gaza. A notícia foi anunciada na noite de quarta-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, — que apresentou o plano de paz — após três dias de negociações no Egito, mediadas por autoridades de Catar, Egito, EUA e Turquia. O acordo prevê a libertação de reféns israelenses em troca de cerca de 2 mil palestinos detidos em prisões de Israel. Nas próximas fases da discussão serão analisados pontos como a desmilitarização do grupo terrorista e a retirada de tropas israelenses do enclave.
Vídeo: Alívio e desconfiança marcam celebrações em Israel e Gaza após anúncio de acordo
Gaza, 2 anos: Infográfico mostra impactos do conflito em comparação com o Brasil
Veja o que ainda precisa ser acordado:
Troca de reféns por prisioneiros
O plano prevê que os reféns israelenses e os prisioneiros palestinos sejam trocados cerca de três dias após Israel ratificar formalmente o cessar-fogo. Os cerca de 20 reféns vivos provavelmente serão libertados entre segunda e terça-feira, segundo Trump.
Shosh Bedrosian, porta-voz do governo israelense, declarou que um cessar-fogo total em Gaza entrará em vigor 24 horas após o governo aprovar o acordo. Depois disso, o Hamas terá 72 horas para libertar os israelenses. Quando o Hamas lançou o ataque contra Israel em 7 de outubro de 2023, que deu início à guerra, cerca de 1.200 pessoas foram mortas e cerca de 250, a maioria civis, foram feitas reféns.
Os ministros do Gabinete de segurança de Netanyahu se reuniram no escritório do premier em Jerusalém para discutir o acordo firmado esta manhã. Depois dessa reunião, foi realizada uma sessão ministerial para dar a aprovação final à primeira fase do acordo com o Hamas, com vistas a pôr fim a dois anos de guerra que deixaram mais de 67 mil mortos na Palestina, além de um território devastado.
Segundo o plano de Trump, cerca de 20 reféns israelenses vivos seriam trocados por 250 prisioneiros palestinos cumprindo penas perpétuas em Israel e 1.700 moradores de Gaza detidos durante a guerra. Os corpos de 15 moradores de Gaza seriam devolvidos em troca dos restos mortais de cada israelense. Autoridades e analistas dizem que entregar os corpos dos cerca de 25 reféns que foram mortos provavelmente seria mais complicado e levaria mais tempo.
Initial plugin text
Desarmamento do Hamas
Um dos aspectos ainda a serem discutidos na fase posterior é a desmilitarização do Hamas e de Gaza. De acordo com informações do New York Times divulgadas na quinta-feira, o grupo palestino poderia aceitar um desarmamento parcial de suas forças em Gaza — o plano de Trump, porém, prevê a total deposição das armas.
— O Hamas pode estar disposto a abrir mão de algumas armas, mas não ficará sem elas completamente — disse ao New York Times o oficial aposentado da Inteligência israelense Adi Rotem, que participou de negociações com o grupo palestino até 2024. — As armas são uma parte essencial do DNA do Hamas.
Segundo o jornal americano, as fontes ouvidas não detalharam o tipo das armas que o Hamas quer manter, mas sugeriram que seriam itens como pistolas e fuzis para proteção de seus membros contra futuras represálias internas.
Palestinos e israelenses comemoram acordo de paz
Retirada total das tropas israelenses
A proposta também prevê que as forças israelenses se retirariam para uma linha acordada entre as partes. A proposta de Trump continha mapas mostrando as linhas de retirada israelenses, mas elas parecem ter sido alteradas durante as negociações e ainda não se sabe quando exatamente essa retirada terá início.
Segundo a porta-voz israelense, as Forças Armadas de Israel se retirariam para linhas de comando, o que as deixaria com o controle de cerca de 53% da Faixa de Gaza. O exército israelense afirmou estar se preparando para liderar a operação de retorno dos reféns e "fazer a transição para linhas de posicionamento ajustadas em breve".
Plano de retirada das Forças de Israel em Gaza
Editoria de Arte / O Globo
Entrada de ajuda humanitária
Em troca à libertação de reféns, Israel também permitir o aumento da entrada de ajuda humanitária no enclave por meio de agências das Nações Unidas e outros organismos internacionais. Segundo a AFP, pelo menos 400 caminhões com ajuda humanitária deverão entrar na região nos primeiros cinco dias de cessar-fogo, com a previsão de aumento nos dias posteriores. A informação ainda não foi confirmada pelas partes.
Horas após o anúncio de Trump sobre o acordo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a organização está pronta para “ampliar imediatamente” a entrega de ajuda humanitária no enclave. Em pronunciamento à imprensa nesta quinta-feira, Guterres classificou o pacto como um “avanço desesperadamente necessário” que “deve abrir caminho para pôr fim à ocupação” e “alcançar a solução de dois Estados”. Mais tarde, Tom Fletcher, diretor de ajuda humanitária das Nações Unidas, detalhou os planos para entrega de suprimentos nos primeiros 60 dias do cessar-fogo.
Entenda: Trump pode ganhar o Prêmio Nobel da Paz?
Guga Chacra: Melhor solução para paz em Gaza ainda é a de dois Estados
Próximas fases
Em termos de prazos, o futuro de Gaza — sua reconstrução e administração — também segue sem uma definição, apenas com acenos sobre intenções. Trump disse que os Estados Unidos ajudariam Gaza a se reconstruir e formariam um "conselho de paz" que seria "muito poderoso", mas não forneceu detalhes sobre como funcionaria.
O plano de Trump propõe que Gaza seja administrada, inicialmente, por um grupo de palestinos sem ligação com o Hamas — que seria excluído de qualquer governo futuro — ou a Autoridade Nacional Palestina (ANP), sob supervisão de um órgão internacional que poderia ser liderado por Trump e com um papel de liderança, também, para Tony Blair, o ex-primeiro-ministro britânico.
Pela proposta da Casa Branca, "Gaza será reconstruída para o benefício do povo de Gaza". O conselho de paz estabeleceria uma estrutura para a reconstrução da região, incluindo financiamento por um período de tempo, enquanto a ANP passaria por um "programa de reforma" para que possa "retomar o controle de Gaza de forma segura e eficaz" (a ANP, que administra parte da Cisjordânia ocupada por Israel, foi acusada de corrupção).
O conselho deve "criar uma governança moderna e eficiente para atrair investimentos". Deve ser estabelecida uma zona econômica especial, com tarifas preferenciais e taxas de acesso a negociar com os países participantes.
Segundo, ainda, a proposta de paz, ninguém será forçado a deixar Gaza. "Vamos encorajar as pessoas a ficar e oferecer-lhes a oportunidade de construir uma Gaza melhor", diz a proposta. Trump havia proposto anteriormente que os moradores de Gaza poderiam ser realocados para outras nações, talvez Estados vizinhos, uma sugestão que atraiu condenação generalizada e que ele abandonou desde então.
A Casa Branca também propôs que parceiros regionais no Oriente Médio garantam que o Hamas cumprirá suas obrigações, e os Estados Unidos trabalharão com parceiros árabes e internacionais para desenvolver uma "Força Internacional de Estabilização" para implantar imediatamente em Gaza.
Essa força "treinará e fornecerá apoio às forças policiais palestinas em Gaza", trabalhando também com Israel e Egito para ajudar a proteger as áreas de fronteira.
Os Estados Unidos estabelecerão um diálogo entre Israel e os palestinos, mas não garante o estabelecimento de um Estado palestino. Diz apenas que, à medida que o novo desenvolvimento de Gaza avançar e o programa de reforma da ANP for realizado, "as condições podem finalmente estar reunidas para um caminho confiável para a autodeterminação e o Estado palestinos, que reconhecemos como a aspiração de seu povo".