Os móveis, todos pesados, escuros e um pouco empoeirados, pertencem a estilos diferentes; fabricados por artífices de várias épocas e com diversa maestria, representam aquisições de anos, todas valiosas.
O diálogo prossegue com hiatos e, sem que nada importante tenha sido dito ou sugerido, ela se distancia no seu andar vagaroso, tão pouco parisiense, o andar de uma provinciana habituada a horas que se desdobram lentas.
Aqui, o texto, em caracteres totalmente desconheci dos e resistentes à decifração, entra pelas bordas, vindo do mundo exterior, vindo do princípio — e enrosca-se em espiral, girando para o centro.
Crava as unhas no meu dorso, passam músicos na praia, abraço-a com força, uma flauta, um violão, um trombone, uma rabeca, os pés descalços dos músicos na areia, nossos corpos oscilando, céu estrelado e grandes aves na praia olham passar os boêmios.
Vamos sem leis ao longo das paredes, passamos ante os rostos amarelos das fotografias, flutuamos sobre as dálias, roçamos um dos lustres, nosso reflexo impreciso ante o vidro do relógio, o ser alado e bicéfalo.
Seis soldados, dóceis às ordens do superior, saltam do carro e com esforço carregam o ataúde, peso de três mortos, chumbo, as tábuas cedem um pouco à pressão vinda de dentro.
É a primeira vez que a vejo à luz crua do dia e o que mais me surpreende é a pele do seu rosto: alva, transparente e como friável, dando a impressão de desfazer-se.
Na calmaria, o som das águas se espraia, passa sem fazer sombra um bando de pássaros, uma onda cor de breu ondula com mais ímpeto ao longe, cintilante, o refluxo cumpriu-se e a preamar da tarde se anuncia forte.