Na tensão entre o real fictício, busco encontrar-me, perdido na imensidão.
Retorno sorrateiramente aos começos, a gênese do efêmero,
término dos princípios.
No ocaso da manhã, um ser escondido, oculta-se no real, denega-se no imaginário, revela-se no simbólico.

Parte do cristianismo foi absorvido por ideologias humanas. Uma mensagem que deveria ser transcultural se diluiu no espaço e tempo. Interesses destituídos da cruz foram disseminados nas instituições. Temas como amor, perdão e graça foram substituídos por ganância e violência.

Mundo terrivelmente cruel, disfarçado de costumes, discursos moralistas.
Movido por poderes hegemônicos, lança bombas e granadas.
Proclama ser libertador das tiranias, enclausurado nas teias do capital.
Nas entranhas do império, ideologias sorrateiras, convence multidões.

Em uma conversa informal nesta semana, destaquei: somos todos o homem ridículo de Dostoievski, um habitante do subsolo. Ainda assim, carregamos a pretensão de grandeza, ânsia de se mostrar invencível, e no âmago da existência, escondemos a pequenez.

Neste ano, quem sabe, utilizar menos as redes sociais, aumentar a leitura. Conhecer um pouco mais de música clássica, ouvir os grandes compositores. E, se possível, aprender mais línguas, dedicar tempo ao aprendizado. Revisitar filmes, livros e músicas que inspiram a vida.

Chomsky se refere a alguns sujeitos como donos do mundo. Ao que tudo indica, esses estão cada vez mais em evidência. Eles comandam a economia, e também a mídia. Mas ninguém manda nas mentes humanas. Estamos fadados à liberdade, algo que não tem preço.

Em poucas palavras, Adelia Prado sintetiza a condição humana, diante da divindade:

"Ó Deus
não me castigue se falo
minha vida foi tão bonita!
Somos humanos,
nossos verbos têm tempos,
não como o Vosso,
eterno."

Sossegue a alma, durma em paz, somos todos iguais,
limitados.

A grandeza do cristianismo repousa na sua pequenez, na capacidade de se identificar com os fragilizados, por causa do pecado. É no resgate de um outro, em condição miserável, que faz a diferença, e demonstra a força poderosa da graça, e do amor incondicional de Deus.

As pessoas que não têm percepção da sua posição social, e defendem interesses outros, contrários a elas mesmas, são manipuladas pela mídia. Essa ausência de criticidade é um recurso ideológico, a serviço do controle social, e da manutenção hegemônica.

Há vitória no fracasso, nem sempre ganha quem vence, o mérito pode estar em ser preterido. Batalhas ganhas a qualquer custo, sem limites éticos, podem parecer dignas, não para sempre. No final, após armas recolhidas, e heróis postos nas lápides, os humilhados receberão lauréis.

O dizer é ético, toda afirmação é responsável, e traz implicações, sobre os outros. Uma incitação, aparentemente gratuita, em um grupo midiático, pode resultar em atos destrutivos. E há quem se fundamente, na fala de um outro, que não tem coragem para agir, e cometer atrocidades.

As narrativas, inclusive as religiosas, não são meras estórias, têm força ilocucionaria e poder performativo. Por isso, lê-las, sem as lentes de amor do Cristo, podem ser extremamente danosas. Há estragos, alguns irreversíveis, por causa de interpretações aplicadas, sem a hermenêutica do amor.

No final da tarde, deitei-me em uma espreguiçadeira ao relento. Contemplei o céu ainda azulado, e a sobra amarela do sol poente. Na mão, um livro de Simone Weil, o olhar absorto para o infinito. Abandonado, perguntei-me: por que não fazer isso mais vezes? A transcendência nos habita, e nos invoca.

Aos que estão chegando, sou um professor e pesquisador, nas áreas de línguas e literatura. Estudei Ciências da Religião e teologia, reflito, literalmente, e geralmente literariamente, sobre Deus e o mundo. Nesses limites, prossigo em construção, inacabado e na expectativa de ser um todo.

Ainda aprendendo a usar esta rede, e encontrar algumas pessoas, que seguia na outra. Por enquanto, mantendo a calma, e disposição para novas amizades. E sempre, em busca de crescimento intelectual, sigamos, pois, juntos. É melhor acompanhado, sozinho não iremos adiante.

A cultura da violência se propaga, há um processo de naturalização. Jacques Ellul nos alertou a esse respeito, com base nos ensinos de Jesus. A civilidade, que demorou para ser alcançado, se perde. O resultado é predominar a lei do mais forte, e cada um por si.