que o tempo ajude a gente a lembrar da minha avó como ela realmente gostaria: como um enorme som de gargalhada.

a gente lá, morrendo de chorar e alguém sobe pra ler um trecho da carta de são paulo aos romanos: “nada de glutonerias (?) e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades”.

não teve um que não riu pensando que minha avó diria: “ah, se não pode nada disso, nem quero”.

levaram minha avó por volta de 20h30. nós chorando no meio da rua, acompanhando o carro funerário indo embora.

não há dignidade nem na morte (nem com a família), a não ser que vc tenha algum dinheiro.

conversem com os seus sobre isso em vida. não dá pra ser tabu.

e não morram (ou tentem adiar).

resultado: acionamos a agência funerária (agora toda privatizada, claro, pois sp) pra vender um funeral milionário. a gente em frangalhos tendo que escolher caixão, flores…
e minha avó lá com a minha irmã ao lado dela checando o coração, “pra ver se ela acordava”. 19h.

enquanto isso, meu cunhado acessou o convenio e, milagrosamente, mandaram 2 médicos pra assinar o óbito. minutos depois, chega a PM DE NOVO. “tem que fazer BO ou cancelar a ocorrencia”. lá vamos nos, de novo, à delegacia.

enquanto isso, eu e meus irmãos íamos fazer carinho nela. já passavam das 17h

baixamos na delegacia e reforçaram: é o samu quem faz isso. incontáveis ligações até que uma médica insensível avisa que ou a gente chamava médicos particulares ou o bombeiro que chegou primeiro faz isso. que não podia fazer nada.
12h, quase 13. e minha avó lá.

de um além qualquer (e muito melhor), minha avó dá uma risadinha 🥰

rapaz que eu tava aí há uma semana num calorão (e comemorando)

eu ri

HAHHAHAHHAHAHHAHHAHAHAHHA

quem precisa de festa de fim de ano da firma depois dessa?

acabei de perguntar pra um amigo paraense o que rolou, acredita?
é impressionante como a gente nem tem notícias de lá né? nem se quisesse acompanhar…

(já estive lá e é uma bosta mesmo)

no dia em que entendi que “cada local tem seu carnaval”, tudo ficou mais claro pra mim. e o próprio sidnei foi muito articulado pra falar sobre. o que me entristece é saber que a mídia que se diz “especializada” ainda trata as coisas assim, em (quase) 2026.

cansativo e triste né?

pô, achei taaaao desrespeitoso, cara! bora aceitar, trocar experiências, levar o que é bom de cada lugar pro outro e todo mundo ganha, né? (vi uma com o igor sorriso outro dia em que ele falava sobre profissionalismo do carro de som aqui, por ex. seria ótimo esse olhar pros 2 carnavais)

ps: sidnei é um cara preto, pobre, periférico, que se formou em economia na maior luta e foi, por cinco vezes, campeão em sp - 4 na mocidade alegre. foi chamado pela mangueira após um desfile sobre os racionais mcs.

saudades do tempo em que rolava pesquisa antes de receber entrevistado.

entre as respostas do sidnei, que eu aplaudi:

“não sei se vc sabe, mas eu era carnavalesco do vai-vai em sp. sei bem como é trabalhar pressionado”.

ou ainda:

“não é sobre meu olhar sobre trabalhar no rio, é o olhar do rio sobre mim como um ‘elemento estranho’”.

aplaudi.

ele tentou voltar umas enésimas vezes pro fato do sidnei ser de sp e “ter o desafio de assumir a mangueira”. como se fosse “a sorte grande”, e não pq o cara foi competente no papel dele e CHAMADO, CONVIDADO pra ir pra lá.
tipo “jornalista esportivo” que não sabe comentar outra coisa além de futebol.