Luciana Vendramini fala dos 20 anos de tratamento de Toc: 'Nunca tomei um porre na vida'
Longe das novelas desde "Espelho da vida", em 2018, Luciana Vendramini vem experimentando o sucesso entre o público LGBTQIAP+ por conta da série "Não costumo me apaixonar por telefone", em que faz par romântico com Giselle Tigre. Em seis episódios com cerca de oito minutos cada, a produção, disponível no Youtube, se passa na década de 1990 e conta a história de duas mulheres que se conectam depois que uma delas, Marcela (Luciana), resolve ligar para a ex-namorada, mas quem atende a ligação é Marina (Giselle), nova proprietária do apartamento. Gradualmente, as duas vão se envolvendo por telefone. A segunda temporada já está gravada, e a terceira vem sendo escrita.
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— Achei a ideia sensacional e topei fazer na hora que recebi o roteiro. Um das autoras, Eve Consendey, nos acompanha desde que eu e Giselle formamos um casal em "Amor e revolução" (novela de 2011 do SBT). Foi quando ela, nascida em família evangélica, se descobriu homossexual e depois conheceu a Andréa Lucena, mulher dela, também autora. Elas nos mostraram vários fã-clubes das personagens, e eu fiquei boba, pois não sabia como era poderoso esse nicho do entretenimento sáfico. As séries sáficas têm muito romance, diálogo. As autoras estudaram cada vírgula do roteiro — explica Luciana.
Pelo papel, a atriz está concorrendo a um prêmio na 11ª edição do Rio Web Fest, que acontece nesta segunda-feira (1) na Cidade das Artes, na Zona Sudoeste do Rio. A série também está indicada.
— A indicação já é um carinho para a alma. Eu me considero uma privilegiada. Ver como a série tem alcançado pessoas é incrível. Por mais histórias de amor em que as pessoas possam ser felizes do jeito que bem entenderem — afirma ela, que comenda ainda as cenas de amor com Giselle: — Na primeira temporada tem o beijo, o frisson do encontro. E a segunda promete. Temos química porque nos respeitamos, somos amigas, as famílias se conhecem. Eu sou mais ousada e a Gi, menos. Um equilíbrio que funciona.
Aos 54 anos, Luciana é "superhetero". Ela conta que está solteira há seis meses após terminar um relacionamento de seis anos:
— Ele era meu namorido. Estou bem, foi uma separação que já estava no planos. Ele é uma pessoa muito querida, muito calma. Não é famoso, trabalha em banco. Mas já vínhamos conversando sobre o término, e eu precisava deste momento.
Desde então, a atriz vem focando na produtora que mantém há 18 anos. Recentemente, ela viajou para Nova York e participou da cerimônia do Emmy Internacional ao lado do sócio, Nelson Foerster:
— Nós já fizemos algumas produções. Desde a pandemia, quando o digital cresceu, estamos investindo bastante na produtora. Ela fica em São Paulo, onde eu moro também. Acredito que talvez seja até esse o motivo de eu não estar mais tão presente na televisão aberta. Estou mais distante do Rio, que é o núcleo da teledramaturgia. Eu adoro novela, mas é uma logística que exige tempo.
Luciana estreou nas novelas em 1991, em Vamp. De lá para cá, esteve em tramas como "Malhação" (1995) e "O rei do gado" (1996). Exatamente nesta época começou a desenvolver sintomas de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), com os quais conviveu por quatro anos. Logo depois, quando gravou uma participação no "Sai de baixo", sentiu muita dificuldade no processo. Na época, Luciana chegou a pesar 39 quilos e passar dez horas no banho.
— Eu estava terminando de gravar "O rei do gado", estava muito feliz. Fui andar de bicicleta na Lagoa (bairro da Zona Sul do Rio) e, de repente, fui tomada por uma taquicardia, que não era parecida com os ataques de pânico que eu já tinha. A Silvia Pfeifer percebeu que havia algo estranho comigo e me indicou um terapeuta. Quando ouvi o diagnóstico, não sabia do que se tratava e fiquei relutante em tomar remédio. Só fui piorando. Na época eu mentia, eu disfarçava. Saía de casa, mas voltava logo. A doença me estilhaçou. As doenças mentais pegam a gente de forma desprevinida e nos devoram — relembra ela, que chegou a escrever um livro nunca lançado sobre o assunto. — Acredito que ele saia no ano que vem. Na época não se falava muito sobre o assunto, fiquei com medo de ficar estigmatizada. Mas, quando falei sobre a doença, as pessoas começaram a me procurar, foi como eu e o Roberto Carlos (cantor) nos tornamos amigos. Até hoje ajudo quem precisa, dou palestras sobre o assunto, pois é algo que evolui muito rapidamente. Vamos morrer e não vamos saber do que nossa mente é capaz.
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Ao passar pela fase do desmame e posteriormente parar de tomar a medicação, Luciana conta que teve uma recaída muito grave. Até hoje ela toma remédios para evitar os gatilhos:
— Eu nunca tomei um porre na vida. Nunca me droguei, tinha medo de viciar com o remédio, mas aprendi que é para me proporcionar uma vida melhor. Ainda tenho crises de ansiedade, vou ao psiquiatra, faço terapia, que me ajuda a controlar os pensamentos intrusivos e as manias. E como são 20 anos de tratamento, sei como evitar os picos. Eu tomo uma medicação mínima, mas acredito que nunca irei suspendê-la.
Para amenizar os sintomas, faz ioga e pilates. Também está estudando Teologia, em busca de compreender melhor o universo:
— Quis entender quem é Deus, que Deus é esse. E quis ler a Bíblia, o livro mais importante e mais perseguido do mundo. Estou fascinada com o que venho aprendendo.
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