‘Não faço cinema para a classe A’, diz Ingrid Guimarães, que lança ‘Perrengue fashion’, sua nova comédia
Entusiasta do humor e do cinema nacional, Ingrid Guimarães já se reinventou inúmeras vezes nas telas, e, segundo a própria, estava louca para dar vida a uma personagem “errada”, justamente o caso da protagonista de seu novo filme, “Perrengue fashion”, a partir desta quinta (9) nos cinemas. Estrela de sucessos de bilheteria como a trilogia “De pernas pro ar”, a atriz, comediante, roteirista, produtora e diretora — isso só no âmbito do cinema, diga-se — também é conhecida por suas parcerias, entre elas as com Tatá Werneck, Mônica Martelli e Paulo Gustavo (1978-2021). O novo cúmplice de risadas é o ator e comediante Rafa Chalub, conhecido nas redes sociais como “Esse menino”. E a amizade, eles afirmam, já ultrapassou o universo cinematográfico.
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— E olha que o Rafa é muito mais novo, eu poderia ser mãe dele. Mas temos muitas coisas em comum, ficamos muito amigos e rimos muito juntos. Como Paulo Gustavo dizia, quando nós (comediantes) encontramos uma pessoa que nos faz rir, não podemos brigar, são poucos os que conseguem isso. Nas gravações, ele virou meu parceiro, era com quem eu saía e para quem ligava quando precisava — diz Ingrid Guimarães, de 53 anos, sobre a "rápida afinidade" que teve com o ator, de 29.
Na trama, a dupla interpreta Paula Pratta, influenciadora que deseja se tornar referência na criação de conteúdo de moda, e Taylor, seu melhor amigo e assessor cheio de ideias excêntricas. Mãe solo e de origem simples, Paula vê a chance de turbinar sua carreira no convite para estrelar uma campanha de Dia das Mães de uma grande marca do segmento cujo ponto de partida é a relação de mães influencers com seus filhos.
Para dar certo, os dois viajam até a Amazônia afim de convencer Cadu (Filipe Bragança), o filho de Paula, a sair da ecovila onde trabalha como ativista ambiental e ajudá-la na ação de marketing. Ao chegar no destino, porém, Paula é confrontada com realidade inesperada.
Dirigido por Flávia Lacerda, de “O Auto da Compadecida 2”, o longa oferece abordagem humorística sobre a ideia de “pertencimento” nas redes sociais e a preservação ambiental.
— Estava louca para fazer uma personagem ‘errada’, como uma mulher sem noção, que vive mais para as câmeras do que para a própria vida. Era algo que estava à minha volta. Mas faço cinema popular, não cinema para a classe A, então criamos uma mulher que também é batalhadora. (A Paula) é um filhote da Leandra Borges — diz a atriz ao GLOBO, em referência à sua personagem na peça “Cócegas”, de 2001, que ganhou um quadro no “Fantástico” e passou por programas como “Escolinha do professor Raimundo” e “Zorra total”.
Na comédia, Ingrid Guimarães e Filipe Bragança interpretam mãe e filho com convicções diferentes
Divulgação/Kelly Fuzaro
Produzido pela Amazon MGM, este é o primeiro longa brasileiro do estúdio a chegar às salas de cinema. Pelo streaming, Ingrid já se envolveu em projetos como as séries “Eleita” e “5x comédia”, além do longa “O primeiro Natal do mundo”, com Lázaro Ramos.
Ingrid 'cismou comigo'
“Perrengue fashion” é a estreia de Rafa Chalub nos cinemas. Sucesso nas redes sociais desde a pandemia — inicialmente com o apelido “Esse menino” —, no filme, o ator e comediante conta ter sentido a responsabilidade de contracenar com uma de suas maiores referências.
— Sempre fui apaixonado pelo trabalho da Ingrid. ‘Cócegas’ foi um dos meus primeiros contatos com a comédia. Foi o que me deu a direção do que eu queria fazer na vida, não só ser um comediante, mas um ator que escreve, produz e faz tudo o mais. E aí, do nada, ela cismou comigo e viramos amigos — conta Rafa.
Para Ingrid, há fundamento na “cisma”.
— Todo mundo (da produção) era fã dele, então fui vê-lo no teatro e adorei. Precisava de alguém com o perfil dele — diz.
Rafa Chalub conta que Ingrid Guimarães é sua referência na comédia desde a peça 'Cócegas', de 2001
Divulgação/Kelly Fuzaro
A iniciação de Rafa nos cinemas também veio com outro fator: interpretar o “melhor amigo gay”, frequentemente estereotipado em produções mundo afora. Os atores contam que houve um cuidado extra dos roteiristas (Marcelo Saback, Célio Porto, Edu Araújo e a própria Ingrid) para construir Taylor de modo real.
— Outras oportunidades que surgiram para mim eram com personagens que só estavam na história pela diversidade. Já o texto do filme, escrito por três homens gays e uma mulher, faz meu personagem importante para a história — conta o ator ao GLOBO.
Comédias também precisam de galãs
Filipe Bragança e Michel Noher vivem, respectivamente, Cadu e Lorenzo, imersos no ativismo ambiental quando são surpreendidos pela visita de Paula e Taylor.
Conhecido do público por estrelar a cinebiografia de Sydney Magal, "Meu sangue ferve por você", e por novelas da TV Globo, entre elas "Elas por elas", Bragança diz que construiu Cadu para que ele fosse “maneiro, divertido e honesto”, enquanto funciona como contraponto ao mundo performático da mãe.
— O Cadu tem convicção e senso de urgência para batalhar por um objetivo maior. Acho que é um movimento natural da minha geração, que vem crescendo com uma perspectiva de futuro mais trágica e pessimista, lidando com um planeta doente. A comédia é um meio para falarmos desses assuntos mais difíceis. E de uma maneira mais divertida e leve, que faz mais gente olhar com atenção para esses temas — diz ao GLOBO.
Interesse amoroso da influenciadora durante a viagem, Michel vê Lorenzo como “idealista” e um possível mediador entre os valores de Cadu e de Paula.
— Ele ainda acredita que vai mudar o mundo. Nossos personagens são o contraponto para a comédia acontecer. Como tínhamos dois grandes comediantes, Ingrid e Rafa, só precisávamos estar com eles — conta o ator argentino.
* Fernanda Alves Davi é estagiária, orientada por Luiz Rivoiro