Entenda em cinco pontos os motivos de Moraes para prender Bolsonaro
Ao decretar a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), listou cinco motivos para a conclusão de que Bolsonaro poderia tentar fugir da prisão domiciliar, incluindo uma tentativa de obstrução, com base na convocação de uma vigília, a violação da tornozeleira eletrônica e a saída do país de aliados.
Moraes também justificou a prisão no discurso "beligerante" contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e no fato de que medidas anteriores contra Bolsonaro não teriam sido suficientes.
Confira a seguir os cinco pontos listados pelo ministro do STF:
1- Tentativa de obstrução
O pedido de prisão, apresentado pela Polícia Federal (PF), foi baseado principalmente na convocação feita pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, de uma "vigília" em frente ao condomínio do ex-presidente. Para Moraes, no entanto, a aglomeração dos apoiadores teria como objetivo "obstruir a fiscalização das medidas cautelares e da prisão domiciliar".
"O conteúdo da convocação para a referida 'vigília' indica a possível tentativa da utilização de apoiadores do réu Jair Messias Bolsonaro, em aglomeração a ser realizada no local de cumprimento de sua prisão domiciliar, com a finalidade de obstruir a fiscalização das medidas cautelares e da prisão domiciliar", escreveu o ministro.
Moraes acrescentou que um eventual "tumulto" dos apoiadores poderia facilitar a fuga de Bolsonaro: "O tumulto causado pela reunião ilícita de apoiadores do réu condenado tem alta possibilidade de colocar em risco a prisão domiciliar imposta e a efetividade das medidas cautelares, facilitando eventual tentativa de fuga do réu".
2- Discurso 'beligerante'
Em relação à vigília, Moraes destacou que Flávio Bolsonaro fez manifestações de "caráter beligerante em relação ao Poder Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal". O ministro afirmou que estaria sendo reforçada uma "narrativa falsa no sentido de que a condenação do réu Jair Messias Bolsonaro seria consequência de uma 'perseguição' e de uma 'ditadura' desta Suprema Corte".
No vídeo, Flávio chama os apoiadores para "lutar" com ele e afirma que "a nossa pátria não vai continuar nas mãos de ladrões, bandidos e ditadores".
"O vídeo gravado por Flávio Bolsonaro incita o desrespeito ao texto constitucional, à decisão judicial e às próprias Instituições, demonstrando que não há limites da organização criminosa na tentativa de causar caos social e conflitos no País, em total desrespeito à democracia", afirmou Moraes.
3- Violação da tornozeleira
Outro ponto importante da decisão é a violação da tornozeleira eletrônica de Bolsonaro, que ocorreu na madrugada deste sábado e foi comunicada ao STF pelo Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (Cime). Para Moraes, há uma relação entre a tentativa de danificar a tornozeleira e a vigília convocada por Flávio.
"Além disso, o Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta Suprema Corte a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu Jair Messias Bolsonaro, às 0h08min do dia 22/11/2025. A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho", disse o ministro.
Depois da prisão, a Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape) enviou um relatório e um vídeo ao STF sobre o episódio. Na gravação, o próprio ex-presidente admite que danificou o equipamento com um ferro de solda, "por curiosidade".
4- Fuga de deputados
Moraes ainda lembrou que os deputados federais Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ) deixaram o Brasil após terem sido condenados pelo STF. Além disso, destacou que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, também está nos Estados Unidos. Os cinco ministros da Primeira Turma do STF votaram para torná-lo réu por sua atuação para que os Estados Unidos sancionassem autoridades brasileiras.
Carla Zambelli foi para os Estados Unidos, e depois para a Itália, em junho, depois de ter sido considerada culpada da invasão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ela foi presa na Itália e enfrenta processo de extradição. Ramagem foi condenado pelo STF no mesmo processo de Bolsonaro, sobre uma tentativa de golpe de Estado, e foi para os Estados Unidos. Moraes já determinou a prisão preventiva dele.
"Não bastassem os gravíssimos indícios da eventual tentativa de fuga do réu Jair Messias Bolsonaro acima mencionados, é importante destacar que o corréu Alexandre Ramagem Rodrigues, a sua aliada política Carla Zambelli, ambos condenados por esta Suprema Corte; e o filho do réu, Eduardo Nantes Bolsonaro, denunciado pela Procuradoria-Geral da República no Supremo Tribunal Federal, também se valeram da estratégia de evasão do território nacional, com objetivo de se furtar à aplicação da lei penal", afirmou Moraes.
5- Medidas anteriores
Moraes também afirmou que outras medidas foram tomadas para manter a prisão domiciliar de Bolsonaro, em vigor desde agosto, mas que não é mais possível a "manutenção desse aparato". Bolsonaro tinha monitoramento em tempo integral, pela Polícia Federal e pela Polícia Penal do Distrito Federal.
"Por fim, ressalte-se que foram adotadas todas as medidas possíveis para a manutenção da prisão domiciliar de Jair Messias Bolsonaro, inclusive com monitoramento integral e destacamento de equipes da Polícia Federal e Polícia Penal do Distrito Federal e realização de escoltas policiais para deslocamentos, não se mostrando possível, porém, a manutenção desse aparato para cessar o periculum libertatis do réu", alegou o ministro.