Petroleiro apreendido na costa venezuelana será levado a um porto dos EUA e o petróleo será confiscado
O petroleiro apreendido pelo governo Donald Trump na costa da Venezuela será levado a um porto dos Estados Unidos e o petróleo será confiscado, declarou nesta quinta-feira a porta-voz da Casa Branca. Sujeito a a sanções há anos, o petroleiro foi apreendido por forças americanas na quarta-feira no Caribe, um ato qualificado como “roubo descarado” e “pirataria” por Caracas. Trata-se de uma nova etapa da pressão americana sobre o regime de Nicolás Maduro — mas, desta vez, no campo econômico.
Veja o vídeo da ação: EUA apreendem petroleiro na costa da Venezuela, afirma Trump
Entenda: Petroleiro apreendido pelos EUA na costa da Venezuela integrava frota clandestina ligada ao Irã e falsificava localização
— Há um processo legal para confiscar esse petróleo, e ele será levado adiante — declarou a porta-voz, Karoline Leavitt. — Não vamos ficar parados e ver como navios sancionados navegam com petróleo contrabandeado, cujos lucros servem para alimentar o narcoterrorismo de regimes ilegítimos — acrescentou a porta-voz.
Questionada sobre se a campanha no Caribe tem como alvo o tráfico de drogas ou o petróleo, Leavitt respondeu:
— Os Estados Unidos estão focados em alcançar vários objetivos no hemisfério ocidental [o continente americano]. O presidente adotou uma nova abordagem que não era tomada por nenhum governo há bastante tempo — concluiu.
A Casa Branca publicou na semana passada uma nova Estratégia de Segurança Nacional que eleva a América Latina e o Caribe a uma região de interesse essencial, diante da presença da China e de regimes que Washington considera hostis.
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O petróleo é a principal fonte de recursos do governo de Maduro, e essa apreensão representa um aumento significativo da pressão.
"Bem, acho que ficaremos com ele", afirmou Trump, referindo-se ao petróleo do navio apreendido pelas forças americanas na costa da Venezuela, na quarta-feira. De acordo com a agência Reuters, os EUA estão se preparando para interceptar mais navios que transportam petróleo venezuelano.
Autoridades de Washington ouvidas pelo New York Times também afirmaram que esperam novas apreensões nas próximas semanas como parte do esforço do governo Trump para enfraquecer Maduro por meio do cerco ao mercado de petróleo do país. Segundo Washington, o petroleiro será levado para um porto dos EUA e todo o petróleo será confiscado.
— Há um processo legal para o confisco desse petróleo, e esse processo legal será cumprido — disse nesta quinta-feira a porta-voz Karoline Leavitt.
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O navio, que operava sob o nome fictício de Adisa, foi alvo de sanções em 2022 pelo Departamento do Tesouro dos EUA, que afirmou que a embarcação fazia parte de "uma rede internacional de contrabando de petróleo [iraniano] que facilitava o comércio e gerava receita" para apoiar as forças do movimento xiita libanês Hezbollah, apoiadas pelo Irã, e a Força Quds da Guarda Revolucionária da República Islâmica.
A apreensão foi revelada pelo próprio Trump na Casa Branca, onde ele acrescentou, sem dar mais detalhes, que "outras coisas estão acontecendo". O governo venezuelano, por sua vez, chamou a apreensão de "roubo descarado e um ato de pirataria internacional".
A apreensão colocou em alerta armadores, operadores e agências marítimas envolvidas no transporte de petróleo bruto venezuelano, com muitos reconsiderando se devem ou não navegar nas águas venezuelanas nos próximos dias, disseram fontes do setor de transporte marítimo à Reuters.
Uma das fontes ouvidas pelo New York Times identificou o navio-tanque como sendo o Skipper e afirmou que transportava petróleo venezuelano da Petróleos de Venezuela, a estatal petrolífera conhecida como PDVSA. A fonte ainda disse que o navio já havia sido ligado ao contrabando de petróleo iraniano — um mercado clandestino global que o Departamento de Justiça dos EUA investiga há anos. A embarcação navegava sob uma bandeira da Guiana, país no qual não estava registrada, e seu destino final era a Ásia, segundo a fonte.
Há cerca de duas semanas, um juiz federal emitiu um mandado de apreensão contra o Skipper devido às atividades anteriores do navio no contrabando de petróleo iraniano, e não por ligações com o governo Maduro, ainda de acordo com a fonte. Não ficou claro, no entanto, se o mandado de apreensão — que está sob sigilo — se referia ao navio, ao petróleo ou a ambos.
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Os promotores afirmaram que o Irã usa o dinheiro gerado com a venda de petróleo para financiar suas Forças Armadas e a Guarda Revolucionária, que os Estados Unidos designaram como organização terrorista.
O proprietário do Skipper, listado como Triton Navigation Corp. no banco de dados marítimo Equasis, e seu administrador, Thomarose Global Ventures Ltd., estão ambos sediados na Nigéria. Procurados pela Bloomberg, eles ainda não se posicionaram sobre o caso.
O petróleo e a Venezuela
A Venezuela é extremamente dependente do petróleo, o que torna esse tipo de apreensão potencialmente prejudicial à frágil economia do país. O petróleo representa a maior parte das receitas de exportação de Caracas. O governo venezuelano, por sua vez, gasta grande parte da receita das exportações de petróleo para importar itens de primeira necessidade, como alimentos e medicamentos.
Embora se acredite que o país possua reservas colossais de petróleo ainda inexploradas, ele produz muito menos petróleo do que no início do século, após a má gestão, as sanções dos EUA e a corrupção na PDVSA terem prejudicado a produção.
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Os Estados Unidos foram, durante muito tempo, o maior comprador de petróleo da Venezuela, mas as tensões políticas corroeram esses laços. Atualmente, a China compra cerca de 80% das exportações totais de petróleo da Venezuela.
Quantidades menores de petróleo venezuelano são exportadas para Washington, frequentemente para refinarias na Costa do Golfo e para Cuba, onde os líderes comunistas da ilha dependem há muito tempo dessas cargas para manter uma aparência de estabilidade econômica.
Petroleiro falsificava localização
Segundo uma análise do New York Times baseada em imagens de satélite e fotografias, o navio Skipper falsificou sua localização nos últimos meses, divulgando dados falsos antes da apreensão, em meio à crescente pressão americana sobre o regime Maduro, que incluem uma forte mobilização militar no Caribe e ameaças de um ataque terrestre.
Entre o final de outubro e o último dia 4, por exemplo, o radar da embarcação indicava que ela estava ancorada no Oceano Atlântico, perto da Guiana e do Suriname. No entanto, o New York Times descobriu que o navio estava, na verdade, a centenas de quilômetros de distância, próximo à Venezuela. Esta seria a primeira viagem do navio para o país sul-americano desde 2023.
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De acordo com uma imagem obtida pelo jornal americano, o navio aparece com a linha d'água baixa, sugerindo que estava sobrecarregado. Segundo a TankerTrackers.com, uma empresa que monitora o transporte marítimo de petróleo em todo o mundo, o Skipper carregava quase 2 milhões de barris de petróleo.
Dados fornecidos pela TankerTrackers.com sugerem que o navio transportou petróleo frequentemente de países sob sanções dos EUA. O rastreamento da embarcação mostra múltiplas viagens ao Irã e à Venezuela nos últimos dois anos. A embarcação, segundo Samir Madani, cofundador do TankerTrackers.com, entregou petróleo iraniano à Síria em 2024, quando o país estava sob o controle de Bashar al-Assad, ajudando seu governo a prolongar a guerra civil.
— Desde que se juntou à frota global de petroleiros clandestinos em 2021, o Skipper transportou quase 13 milhões de barris de petróleo iraniano e venezuelano — disse Madani, acrescentando que, entre fevereiro e julho deste ano, o navio transportou quase 2 milhões de barris de petróleo bruto do Irã para a China.
(Com AFP, Bloomberg e New York Times)