Protagonista brasileiro na transição energética, Caatinga ainda sofre com alto desmatamento, diz MapBiomas
Bioma exclusivamente brasileiro, a Caatinga emerge como protagonista na transição energética do país, mas enfrenta desafios históricos de desmatamento, segundo relatório da rede MapBiomas divulgado nesta quinta-feira. A Caatinga abriga 62% das áreas de usinas fotovoltaicas do Brasil, com 21,8 mil hectares do bioma já ocupados por essas instalações. Entretanto, a maior parte do território convertido (52,6% ou 11,4 mil hectares) era anteriormente formações savânicas e florestais, enquanto 35% (7,5 mil hectares) eram pastagens.
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— Essa transição, embora contribua para a matriz energética limpa do país, levanta questões sobre esse uso da terra recente no país e a conservação da vegetação nativa na Caatinga — defende o professor Washington Rocha, coordenador da equipe da Caatinga do MapBiomas.
Os dados estão presentes no levantamento do MapBiomas, que dimensionou as mudanças no bioma ao longo das quatro últimas décadas. A pesquisa revela que a Caatinga, que ocupa uma área de 86,2 milhões de hectares, ou 10,1% do território nacional, sofreu uma perda de 9,25 milhões de hectares de áreas naturais entre 1985 e 2024. A redução de 14% da cobertura original foi impactada pela expansão da agropecuária, segundo o documento.
No ano passado, quase dois terços (59% ou 51,3 milhões de hectares) do bioma ainda eram cobertos por vegetação nativa, sobretudo por formações savânicas (55,9%), que foi o tipo de área natural mais afetada pelo desmatamento nas quatro décadas, perdendo 8,9 milhões de hectares.
Veja outras informações do relatório:
A área antrópica na Caatinga aumentou 39% entre 1985 e 2024, somando 9,2 milhões de hectares de expansão.
Mais de um terço (37%, ou 32,3 milhões de hectares) do bioma é ocupado por áreas de uso agropecuário.
A pastagem é o principal uso antrópico, respondendo por 24,7% do total do bioma e expandindo 106% (11 milhões de hectares) desde 1985.
Proporcionalmente, a agricultura foi o uso da terra que mais cresceu, com um aumento de 1636% (1,7 milhão de hectares) no mesmo período.
Entre os usos agrícolas, as lavouras temporárias predominam com 1,4 milhão de hectares (74%), enquanto as lavouras perenes ocupam 483 mil hectares (26%).
Essa expansão se deu prevalentemente sobre a formação savânica, que também é a classe de cobertura natural mais afetada por queimadas anualmente, com uma média de 78% das ocorrências.
Nos últimos 40 anos, 11,4 milhões de hectares da Caatinga foram queimados, uma área maior que o território de Portugal.
No período, a Caatinga perdeu 66 mil hectares (21%) de superfície de águas naturais.
A superfície de água no bioma está predominantemente em hidrelétricas, que ocupam cerca de 390 mil hectares (42%), majoritariamente na bacia hidrográfica do rio São Francisco, com 96% (375 mil hectares).
Os reservatórios correspondem a 32% da área de superfície de água no bioma (297 mil hectares).
Áreas naturais nos estados
O relatório mostra que todos os estados da Caatinga registraram redução de áreas naturais nas quatro últimas décadas, com 86% (1042) dos municípios do bioma apresentando perda de vegetação nativa. Os pesquisadores ponderam que, apesar disso, 55% (670) dos municípios da Caatinga possuem mais de 50% de vegetação nativa.
Os estados com maior proporção de áreas naturais em 2024 são: Piauí (82%), Ceará (68%), Pernambuco (60%), Bahia (58%) e Paraíba (56%). Por outro lado, os com menor porcentagem nesta métrica foram: Minas Gerais (50%), Rio Grande do Norte (50%), Alagoas (27%) e Sergipe (24%).
O MapBiomas destaca também que um décimo (10%) do território da Caatinga está protegido por Unidades de Conservação (8,2 milhões de hectares), que abrigavam 13% da vegetação nativa do bioma (6,8 milhões de hectares) em 2024.
Três em cada quatro hectares de Unidades de Conservação na Caatinga são de Uso Sustentável (6,1 milhões de hectares). Nelas, houve 11,8% de redução da área de vegetação nativa entre 1985 e 2024 (perda de 563 mil hectares).