Morte após feijoada: crimes no Rio e em São Paulo têm uma coisa em comum; entenda
A morte do aposentado Neil Correa da Silva, de 65 anos, suspeito de ter sido envenenado pela própria filha, a estudante de Direito e motorista de ônibus Michelle Paiva da Silva, de 43, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, revela uma trama que ultrapassa os limites do Rio de Janeiro e chega a Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo. É lá que vive Ana Paula Veloso Fernandes, apontada como a executora deste e de pelo menos outros três assassinatos, contra Marcelo Hari Fonseca, Maria Aparecida Rodrigues e Hayder Mhazres.
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Segundo investigação do 1º Distrito de Guarulhos, da Polícia Civil de São Paulo, Ana Paula foi contratada por Michelle para executar a morte do pai. Ela foi responsável por trazer uma feijoada, servida para a vítima, no dia 26 de abril de 2025, horas antes de ela morrer, em um hospital de Duque de Caxias. Também estudante do mesmo curso de Michelle, Ana é descrita pela polícia como serial killer, inteligente, e manipuladora. Além disso, ainda tentava dificultar o andamento das investigações.
Michelle ao chegar na DHBF logo após ser presa
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— Ana Paula Veloso é do Rio, se mudou para Guarulhos. Na nossa delegacia, ela foi cadastrada como vítima em um boletim de ocorrência. No decorrer da investigação verificamos que ela não era vítima. Na verdade, ela tinha envolvimento em três crimes, um em São Paulo, dois em Guarulhos. Diante desses fatos, solicitamos medidas cautelares ao Poder Judiciário, que foram deferidos, inclusive a prisão dela. A investigação foi crescendo e chegamos a esse caso aqui em Duque de Caxias — explicou o delegado Alisson Leite Hideão, de Guarulhos, que comanda a investigação.
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Segundo ele, Ana Paula procurava a polícia paulista com frequência, desde que mudou de Caxias para Guarulhos, no dia 15 de janeiro, para registrar ocorrências. Em uma delas, alegou que estava sendo vítima de uma ameaça e mencionou a existência de um bolo, supostamente envenenado, que havia sido deixado na universidade onde estudava, na cidade paulista. A investigação, no entanto, revelou que ela mesmo havia preparado a sobremesa. O objetivo seria tentar forjar a autoria de um homicídio em que estaria envolvida, direcionando as investigações sobre o crime para outra pessoa.
A suspeita Ana Paula Veloso Fernandes
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— É uma investigação complexa. As vítimas não têm relação entre si, porém, todas são relacionadas a Ana Paula Veloso. E se comprovou que ela é uma serial killer. Não temos dúvida nenhuma — afirma ele. — Existem conversas nos celulares que mostram toda a dinâmica da morte do Neil. A Ana Paula conversa com sua irmã gêmea, que também participou do homicídio e está presa. Nestas mensagens, elas comentam todo o planejamento para a morte do Neil.
O aposentado Neil Correa da Silva morto após comer uma feijoada supostamente envenenada
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De acordo com o delegado Alisson Leite, a prisão de Michelle foi uma ação conjunta com a Delegacia de Homicícios da Baixada Fluminense. Em audiência de custódia, nesta quinta-feira, ela foi mantida presa e será enviada para São Paulo:
— A gente veio com esse mandato de prisão temporária, tinha também mandatos de busca e apreensão nos locais de trabalho da Michelle. As diligências estrategicamente preparadas com a Delegacia de Homicídios foram muito bem executadas e resultaram na prisão dela. Não se descarta que existam outras pessoas envolvidas no crime do Sr. Neil. E também não se descarta que Ana Paula tenha cometido outros assassinatos.
Michelle e Ana se conheceram numa universidade, na Zona Norte do Rio. Ambas eram moradoras de Duque de Caxias e cursavam Direito numa mesma sala. Em janeiro, a segunda foi para São Paulo, onde passou a estudar. Mas, a amizade entre as duas mulheres continuou. Segundo uma investigação, a motorista de ônibus não tinha uma boa relação com o pai. Por isso, teria contratado a amiga, que contou com o apoio de uma irmã gêmea, para executar a vítima. O crime teria custado R$ 4 mil. Mas, como Ana Paula Veloso Fernandes havia feito um empréstimo com a contratante, o valor da dívida foi abatido. Assim, a filha do aposentado teria pagado efetivamente R$ 1,4 mil pelo assassinato.
Ana foi presa no dia 9 de julho último em São Paulo. A irmã gêmea, identificada como Roberta Cristina Veloso, foi detida em agosto. A primeira estava com a prisão preventiva decretada. A segunda foi capturada por conta de um mandado de prisão temporária. Já Michelle Paiva da Silva foi presa na última terça-feira, quando chegava a uma universidade, no bairro do Engenho Novo, na Zona Norte do Rio.
Nesta quinta-feira, policiais paulistas e agentes da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, que também já investigavam a morte do aposentado Neil Correa da Silva, realizaram a exumação do corpo da vítima. O cadáver que estava sepultado no Cemitério Memorial Rio, em Cordovil, foi levado para o Instituto Médico-Legal, no Centro do Rio.
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