De bicheiro a traficante evangélico: saiba quem são os oito criminosos do Rio que constam na lista dos mais perigosos e procurados do Brasil
Desde o início da semana, os 216 foragidos mais perigosos e procurados do Brasil estão elencados num site do Governo Federal. A Lista dos Procurados do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) foi lançada na segunda-feira pelo Ministério da Justiça e inclui oito nomes cuja prisão é prioritária, com base no risco que oferecem. Entre os foragidos destacados estão os traficantes Peixão, Doca, Abelha e Lacoste, além do bicheiro Bernardo Bello. Veja abaixo a lista completa com o recorte do Rio.
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Criminosos do Rio na lista dos mais perigosos do Brasil
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1 - Adilsinho
Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho
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Conhecido como Adilsinho, Adilson Oliveira Coutinho Filho é apontado pela polícia como sendo ligado a um grupo que opera um cassino on-line clandestino que movimentou R$ 130 milhões em três anos e que é alvo da Operação Banca Suja, deflagrada pela Polícia Civil em outubro. Ele é um antigo conhecido das autoridades de segurança cariocas. Considerado foragido, o contraventor controla a fabricação e a venda de cigarros ilegais na Região Metropolitana do Rio e, hoje, já expande seus negócios ilegais para outros estados.
Adilsinho nasceu em maio de 1970 em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, numa família de bicheiros que agia naquela região. O pai era sócio da banca "Paratodos" e logo enriqueceu com a jogatina. Todos se mudaram para o Leblon, bairro abastado na Zona Sul da capital, onde o contraventor passou a infância e a juventude. E ainda novo começou a se envolver nos negócios ilegais que viria a herdar.
Foi na contravenção — baseada no monopólio e na corrupção policial — que Adilsinho buscou inspiração para começar a construir seu império, que conta com pelos menos 34 PMs em sua escolta. A Polícia Federal aponta que, a partir de 2018, ele passou a reinvestir o dinheiro do jogo ilegal na produção e comercialização de cigarros clandestinos, vendidos abaixo do preço mínimo de R$ 6,50 por maço, fixado por decreto.
Para eliminar concorrentes, a quadrilha de Adilsinho coage comerciantes a venderem apenas os produtos do grupo. Quem não segue a imposição é eliminado a tiro. A impunidade para o bando é assegurada pela infiltração no aparelho estatal. Entre execuções de desafetos, sequestros e atentados, a quadrilha do contrabandista tem participação em pelo menos 26 crimes ao longo das últimas duas décadas, afirmam as autoridades de segurança.
Além da ligação com o jogo do bicho e a máfia do comércio ilegal de cigarros, o contraventor é apontado como o mandante dos assassinatos do miliciano Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, e de Alexsandro José da Silva, o Sandrinho, numa investigação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
2 - Peixão
Peixão
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Com 79 anotações criminais, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, de 38 anos, é chefe do Terceiro Comando Puro nas cinco comunidades da Zona Norte que compõem o Complexo de Israel: Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco Bocas. O TCP é a segunda facção fluminense que mais cresce em expansão territorial, ficando atrás somente do Comando Vermelho.
Além de ordenar homicídios e cobrar taxas de comerciantes, Peixão, que se apresenta como evangélico, é acusado de intolerância religiosa. Denúncias afirmam que ele chegou a proibir o uso de branco pelos moradores e destruiu terreiros nas favelas que domina. Em julho de 2024, circulou pelas redes sociais que o bandido havia determinado a proibição de festejos juninos em três igrejas católicas localizadas no entorno do Complexo de Israel.
Para marcar seu território, o criminoso costuma usar a bandeira de Israel e frases da Bíblia pintadas nos muros. Na Cidade Alta, o topo de uma caixa d'água ostentava uma Estrela de Davi em néon, símbolo do domínio do criminoso. A estrela foi derrubada durante uma operação da Polícia Civil e Militar no complexo.
O perfil violento do bandido é conhecido pelos investigadores. Segundo a polícia, ele costuma punir seus inimigos com a morte e é um obstinado quando se trata de infiltrados. Ele foi o primeiro a introduzir o uso de drones para vigilância em suas áreas, a fim de acompanhar a movimentação da polícia e dos concorrentes.
3 - Bernardo Bello
O contraventor Bernardo Bello
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Alvo de operações da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), Bernardo Bello Pimentel Barboza tem uma vida em que mistura bens de luxo, usados para esconder a origem ilícita de sua riqueza, e crimes que vão da contravenção a execuções de inimigos. Em março de 2024, ele foi um dos alvos da ação contra seu grupo criminoso, num esquema de empresas que faziam lavagem de dinheiro do contraventor. O bicheiro é investigado em casos de assassinatos, de rivais a desafetos.
Bernardo Bello se casou com Tamara Harrouche Garcia, filha de Waldermir Paes Garcia, o Maninho. Com a morte do patriarca da família Garcia, num assassinato em setembro de 2004, os negócios da contravenção do grupo seriam herdados pelo irmão dele, Alcebíades Paes Garcia, o Bid.
Acusado de ser o mentor intelectual da morte do contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bid, assassinato cometido em 25 de fevereiro de 2020, Bello voltava de Dubai, nos Emirados Árabes, quando foi preso em Bogotá, na Colômbia, durante uma ação da Delegacia de Homicídios da Capital da Polícia Civil e do Gaeco/MPRJ, em janeiro de 2022. Na difusão vermelha da Interpol o nome do bicheiro era classificado como “perigoso” e “violento” ao ser tido, à época, como um fugitivo procurado.
Bello foi solto quatro meses depois após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) conceder um habeas corpus para que o bicheiro respondesse ao processo em liberdade. Na época, foi determinado que ele se apresentasse à Justiça de dois em dois meses e ficasse proibido de sair de casa sem autorização ou de se mudar de endereço. O MP, no entanto, acusou Bello de descumprir as medidas cautelares impostas desde o fim de novembro de 2022, quando passou a ser considerado foragido em outro processo respondido por ele.
Na ocasião, ele foi acusado de ser um dos chefes da contravenção no Rio e foi alvo da Operação Fim de Linha, do Ministério Público estadual, que teve como foco a repressão a crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro proveniente da exploração de jogos de azar. À época, ele não foi localizado.
4 - Doca ou Urso
Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, é considerado foragido da Justiça
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Edgar Alves de Andrade, o Doca, de 55 anos, era o principal da megaoperação das polícias Civil e Militar nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, no dia 28 de outubro. Foragido da Justiça, ele é apontado pela Polícia Civil como um dos integrantes da cúpula do Comando Vermelho (CV), com atuação no Complexo Penha.
De acordo com promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), Doca — ou Urso, como também é conhecido — é o principal líder do CV no Complexo da Penha e em comunidades como Gardênia Azul e César Maia, na Zona Sudoeste, e Juramento, na Zona Norte, algumas delas recentemente tomadas da milícia.
Ele é investigado por mais de cem homicídios, incluindo execuções de crianças e desaparecimentos de moradores. Em outubro de 2023, Doca foi apontado como o mandante da execução de três médicos e da tentativa de homicídio de uma quarta vítima na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. As vítimas participavam de um congresso de medicina e foram confundidas com milicianos de Rio das Pedras.
A Polícia Civil acredita que Doca tenha ordenado ações de traficantes na Gardênia e em Rio das Pedras. O traficante ficou conhecido também por ter como homem de confiança o BMW, que pode estar à frente da nova guerra entre traficantes e milicianos nessas duas comunidades e, segundo investigações, BMW é procurado pela polícia desde que três médicos foram executados em um quiosque na Barra da Tijuca, em outubro de 2023.
5 - Pezão
O traficante Pezão
Gustavo Azeredo
Com pelo menos oito mandados de prisão expedidos pela Justiça e uma ficha criminal que inclui delitos como roubo, tráfico de drogas e homicídio, Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, é o integrante da cúpula do Comando Vermelho que está foragido há mais tempo. Quando 3.500 homens das polícias Civil e Militar, do Exército e da Marinha ocuparam os complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, em 28 de novembro de 2010, Pezão já estava com a prisão decretada. Mas ele fugiu dois dias antes da megaoperação, usando provavelmente uma tubulação de esgoto.
Logo após fugir em 2010, Pezão foi para a Região dos Lagos e, depois, para o Paraguai. No exterior, segundo informações recebidas pela polícia, estabeleceu contato com traficantes internacionais e passou a enviar a comunidades dominadas pela facção criminosa, toneladas de maconha, cocaína e cigarros contrabandeados, além de pistolas e fuzis. Em 2022, dados de inteligência das Polícias Civil e Militar e informações recebidas pelo Disque-Denúncia (2253-1177) apontavam que o traficante havia retornado ao Rio de Janeiro. Ele estaria pelo menos desde o início daquele ano no Complexo do Alemão.
Duas das prisões preventivas de Pezão foram decretadas em 2021, ambas por tentativa de homicídio contra policiais. O despacho expedido pela 2ª Vara Criminal do Rio destaca que o bandido “é apontado como chefe do tráfico do Complexo do Alemão, um dos líderes da facção criminosa, existindo informações de que estaria foragido há relevante lapso temporal”. Já na decisão da 1ª Vara Criminal do Rio, o criminoso é classificado como responsável por ordenar ataques contra policiais que tentem entrar no Alemão.
6 - Naval
Paulo David Guimarães Ferraz da Silva, o Naval
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Homem de confiança dos irmãos Braga (como são conhecidos Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, e Wellington da Silva Braga, o Ecko, ambos mortos em trocas de tiros com policiais em 2017 e 2021, respectivamente, além de Zinho), Paulo David Guimarães Ferraz Silva, o Naval, é um dos homens de guerra da milícia. Além de ser considerado perito em manusear armas, já que foi fuzileiro naval — o que originou o apelido.
Após a prisão de Luís Antonio da Silva Braga, o Zinho, chefe da milícia, em dezembro de 2023, e a morte de seu sucessor, Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipito, em junho de 2024, quem assumiu a frente da maior milícia do Rio foi Naval. Aos 32 anos, o criminoso é o principal braço armado do grupo, com centenas de fuzis sob seu domínio, segundo investigações da Draco.
Ele é ainda um dos suspeitos de executar com disparos de fuzil o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, apontado como um dos fundadores da milícia Liga da Justiça. O grupo criminoso — que mais tarde passou a ser chamado de Bonde do Zinho — age na Zona Oeste do Rio.
7 - Lacoste
Casa do traficante Lacoste tinha passagem secreta para a mata, na comunidade da Serrinha, na Zona Norte do Rio
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Wallace Brito Trindade, o Lacoste, é ligado a facção Terceiro Comando Puro (TCP) e chefia o tráfico de drogas no Complexo da Serrinha, em Madureira, Zona Norte do Rio. Ele também é conhecido como Flamengo, WC ou Salomão. O Portal dos Procurados oferece uma recompensa de R$ 1 mil por informações que levem a sua prisão.
O Complexo da Serrinha, que compreende as comunidades da Serrinha, Fazenda, Patolinha, São José e Dendezinho, ostenta a maior quantidade de armas e bocas de fumo da região da grande Madureira. Seriam centenas de fuzis e pontos de drogas, que rendem mais de R$ 700 mil por mês para a facção que domina todas as cinco favelas do complexo.
Lacoste vem tentando tomar os pontos de drogas do Morro do Cajueiro, que fica na mesma região e que é dominada pela facção rival, o Comando Vermelho. No domingo de Páscoa do ano passado, Lacoste ordenou que os traficantes da Serrinha invadissem o Morro do Cajueiro. No momento da invasão, o menor Ryan Gabriel Pereira dos Santos, de apenas 4 anos, que brincava com o avô na calçada, foi atingido por uma bala e morreu.
Contra Lacoste constam dois mandados de prisão pelos crimes de homicídio e de associação para o tráfico de drogas. Ele ainda foragido desde 2007, quando saiu no sistema semiaberto, do Instituto Penal Plácido Sá de Carvalho, condenado a pena de sete anos pelo crime de tráfico de drogas, e não retornou mais à unidade.
8 - Abelha
Wilton Carlos Rebelo Quintanilha, o Abelha
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Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, é um dos membros mais importantes fora da cadeia, da cúpula da maior facção fluminense, o Comando Vermelho. Não foi sempre assim, porém: ele saiu pela porta da frente do Presídio Vicente Piragibe, no Complexo do Gericinó, em julho de 2021, mesmo tendo um mandado de prisão pendente expedido em seu nome. O episódio deflagrou uma crise em diferentes órgãos da segurança pública do estado.
Três dias antes de deixar a cadeia, a unidade em que Abelha se encontrava recebeu três tortas de uma famosa panificadora, seis embalagens de cortes de frango fresco, salgadinhos em “quantidade razoável”, uma caixa grande de cigarros e oito bolos pequenos. A data — 24 de julho, um sábado — coincidia com o aniversário de 50 anos de Wilton, que teria dado uma festa dentro do Vicente Piragibe, o que motivou uma investigação da Vara de Execuções Penais (VEP) do Rio e o Ministério Público do Rio (MPRJ).
O traficante é considerado foragido desde então. Ele teve a prisão decretada em processo no qual é réu pelo homicídio de Ana Cristina Silva, de 25 anos, baleada durante a invasão do bando dele ao Morro de São Carlos, no Estácio, no dia 26 de agosto de 2021. O caso ganhou repercussão à época porque a jovem, que acabou atingida na cabeça por um tiro de fuzil, se curvou para proteger o filho de 3 anos.
O bando de Abelha esteve envolvido em diferentes frentes de confronto no passado recente, em especial em bairros da Zona Oeste. Só a favela da Gardênia Azul, por exemplo, foi palco de dez tentativas de invasão em um período de pouco mais de um mês. Neste contexto, Wilton chegou a firmar acordos com grupos milicianos rivais aos paramilitares que ele combate, ampliando ainda mais a disputa entre quadrilhas na região.
Um capítulo recente, no entanto, mostra que Abelha perdeu o protagonismo em seu bando. Ele teria sido destituído do alto posto da cúpula. A Polícia Civil investiga a informação, recebida pelo setor de inteligência da corporação, dando conta de que Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, apontado como chefe da facção, teria ordenado a destituição de Abelha, já substituído por Luciano Martiniano da Silva, o Pezão.
Lista dos Procurados do Sistema Único de Segurança Pública
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) instituiu a Lista dos Procurados do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), que visa divulgar, em âmbito nacional, os indivíduos cuja prisão é estratégica para o combate às organizações criminosas no país. Cada estado e o Distrito Federal indicou até oito nomes de criminosos procurados que atendam a uma matriz de risco definida pelo MJSP, considerando principalmente o grau de periculosidade. De acordo com o Governo Federal, "a implementação da lista representa um esforço conjunto entre as esferas federal e estadual para aprimorar a segurança pública e combater de forma mais eficaz as organizações criminosas no Brasil".
Denúncias anônimas sobre os foragidos podem ser realizadas pelos canais 190 e 197. Segundo a pasta, a iniciativa permite o intercâmbio de informações entre os estados e estimula a colaboração direta da população.
O site é um desdobramento do Programa Captura, uma articulação nacional cujo objetivo é a identificação, localização e prisão de criminosos considerados de alta periculosidade. O ministério informou que irá instalar uma célula operacional da organização no estado do Rio de Janeiro.
“A medida responde à constatação de que criminosos de diferentes regiões do Brasil frequentemente se ocultam em áreas do estado fluminense. A nova estrutura permitirá apoio direto às polícias estaduais e maior agilidade na troca de informações para a localização de foragidos”, aponta a pasta.