Lula na COP30: 'Precisamos pensar na maneira de viver sem combustíveis fósseis'; negociação ainda está longe de consensos
Depois de um longo dia de reuniões com representantes dos principais grupos negociadores na COP30, em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou à capital do Pará para envolver-se diretamente nas conversas e tentar destravar pontos que geram elevada tensão entre as 195 partes da convenção climática (que perdeu um integrante com a ausência dos Estados Unidos), fez um pronunciamento no qual defendeu a necessidade de “construir" um mapa para a eliminação dos combustíveis fósseis, mas sem poder apresentar avanços na negociação nesse sentido.
O tema foi mencionado — para alguns países de forma pouco clara e enfática — no primeiro esboço de declaração da COP30 apresentado na última terça-feira, e desde então a delegação brasileira e a Presidência da COP30 tentam buscar um consenso que permita torná-lo parte da negociação formal da convenção.
A euforia e emoção do presidente contrastaram com as dificuldades que, segundo observadores, existem no atual momento dos debates. Era esperado para esta quarta-feira a divulgação do primeiro “pacote” de acordos da COP30, o chamado pacote de Belém A (que inclui pendências ainda fora da agenda e assuntos relacionados a elas), mas a expectativa ficou frustrada. As conversas continuam, com divergências fortes em matéria de adaptação e financiamento, entre outras.
Ao lado do presidente da convenção, embaixador André Corrêa do Lago, a diretora-executiva Ana Toni, a ministra do Meio Ambiente, Maria Silva, o chefe dos negociadores brasileiros, embaixador Mauricio Lyrio, e a primeira-dama, Janja da Silva, o presidente fez um apelo ao mundo:
— Se combustíveis fosseis é uma coisa que emite muito gás de efeito estufa precisamos pensar em como viver sem eles e conseguir a forma de viver sem eles. E digo isso sendo de um país que extrai 5 milhões de barris de petróleo por dia, mas também que produz etanol e cuja energia elétrica é 87% limpa.
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Lula disse confiar em que seus negociadores farão “a melhor negociação possível”, e que o mapa dos combustíveis fósseis será construído em conjunto. O presidente fez até uma brincadeira que surpreendeu:
— Sou capaz de convencer o presidente dos EUA [em referência a Donald Trump] de que a questão climática é séria… sonho até em acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Lula participou ativamente das conversas nesta quarta, e em todas, comentaram fontes, insistiu na necessidade de que o mundo caminhe para a eliminação dos combustíveis fósseis. Os negociadores tentam encontrar um caminho buscando termos que possam ser aceitos por todas as partes da convenção, mas existem “linhas vermelhas fortes”, em palavras de uma fonte, por parte de países como Arabia Saudita, mas não apenas. China e Índia também resistem, assim como muitos outros.
Em paralelo, mais de 80 membros da convenção apoiam a iniciativa, e pedem sua inclusão na agenda de debates.
— Obrigada presidente pelo seu emprenho com um dos maiores desafios que a humanidade já enfrentou — disse a ministra do Meio Ambiente, que deu a única notícia concreta do dia, confirmada apenas pelo Brasil.
Se trata de uma contribuição de 1 bilhão de euros por parte da Alemanha, segundo a ministra, para o fundo de florestas, o chamado TFFF, que até agora contava com US$ 5,5 bilhões investidos por Brasil (US$ 1 bilhão), Indonésia (US$ 1 bilhão), Noruega (US$ 3 bilhões) e França (US$ 500 milhões). O anuncio surpreendeu, em meio à polêmica provocada pelas declarações do chanceler alemão, Friederich Merz, sobre Belém. Em Berlim, funcionários do governo alemão negaram ao longo do dia que um anúncio concreto sobre o TFFF estivesse previsto para esta quarta.
Lula deixou Belém desejando que a COP30 seja a “melhor de todas as COPs”, e confiando em sua equipe negociadora, que tem 48 horas para alcançar consensos e apresentar resultados concretos.