Fitch rebaixa nota de crédito do BRB e cita 'graves riscos' após liquidação do Master
A Fitch Ratings, uma das principais agências de classificação de risco do mundo, rebaixou nesta quarta-feira a nota de crédito do BRB (Banco de Brasília) para “CCC”, nível considerado muito fraco. O corte ocorre após o afastamento judicial do presidente e do diretor financeiro do banco e diante das investigações sobre a compra, pelo BRB, de carteiras de crédito do Banco Master suspeitas de fraude.
Em relatório, a Fitch afirma que o caso representa um “significativo enfraquecimento da governança e dos controles internos de risco do banco”, observando que as operações investigadas “aumentaram substancialmente o risco de falha do BRB”. A agência destaca ainda que as irregularidades apontadas “podem afetar de forma relevante o balanço, a capitalização e a própria franquia da instituição”.
A Fitch também manteve todas as avaliações do banco em Observação Negativa, um alerta de que novos rebaixamentos podem ocorrer à medida que as investigações avancem. Segundo a agência, até o momento as autoridades apontam indícios de que partes das carteiras adquiridas “carecem de substância econômica” e podem não ser respaldadas por fluxos de caixa reais. O BRB reconheceu problemas em parte dessas operações e informou que ativos foram substituídos, mas o processo ainda é analisado por auditores e órgãos de investigação.
No documento, a Fitch ressalta que o afastamento do CEO e do CFO, determinado pela Justiça e seguido de demissão pelo Conselho, evidencia “deficiências significativas de governança, supervisão e gestão de riscos”. A agência afirma ainda que o impacto financeiro final permanece incerto, mas alerta que, dado o nível de capital do BRB, “a possibilidade de perdas relevantes não pode ser descartada”.
Outro ponto levantado no parecer é a decisão de retirar do banco o “rating de suporte” do controlador, avaliação que mede o quanto o controlador de uma instituição, no caso do BRB, o Governo do Distrito Federal, teria capacidade e disposição de socorrer o banco caso ele enfrente dificuldades financeiras graves.
Segundo a Fitch, a combinação de investigações, disputas judiciais e risco político “cria incerteza substancial sobre a capacidade e o momento de qualquer eventual apoio do governo do Distrito Federal”, levando a agência a concluir que não há mais expectativa razoável de socorro.
A agência também observa que o comportamento do mercado já indica preocupação: intervalos entre taxas mais altos, maior aversão ao risco e aumento de vendas de instrumentos ligados ao banco. Para a Fitch, isso coloca o BRB em maior vulnerabilidade, com risco de pressões sobre captação e confiança, algo compatível com a avaliação atual.
A nota pode ser novamente rebaixada caso o banco sofra deterioração adicional no capital ou enfrente dificuldades para captar recursos. Já uma melhora dependeria de uma avaliação independente que confirme que as perdas podem ser absorvidas, além de um plano claro de recapitalização e avanços concretos nos controles internos e na governança.