Itaú vê fragilidade na economia dos EUA e alerta para riscos em corrida da IA
A economia dos Estados Unidos só cresceu no primeiro trimestre graças ao impulso dos investimentos em inteligência artificial (IA), o que revela uma “fragilidade” local, afirmou o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita. Para ele, a disputa entre empresas para liderar a tecnologia se assemelha a uma “corrida de cavalo”, em que apenas uma parte sairá vencedora, deixando para trás os investimentos nas demais.
— O que a gente vê é uma corrida de cavalo. Não dá para ganhar todo mundo. Em algum momento, uma empresa vai ter que se distanciar das outras e vai ganhar. O investimento nos outros, o que vai ser desse investimento? Tem uma fragilidade. É isso que preocupa a gente sobre a economia americana. O próprio FED (o Banco Central americano) está preocupado com isso, não é uma particularidade nossa. Até o comportamento em relação aos ativos parece um pouco aquele comportamento antes da crise do subprime. Todo mundo acha que vai conseguir sair a tempo, às vezes não dá tempo.
Mesquita acrescentou que a indústria de IA pode sofrer um freio, por ser altamente intensiva em energia, e disse não se surpreender se surgirem movimentos sindicais contrários à adoção dessas tecnologias, além de pressões de ambientalistas.
Pedro Schneider, economista do Itaú Unibanco, disse que o efeito da IA no crescimento dos Estados Unidos vem principalmente de dois canais: o investimento direto em softwares, data centers e infraestrutura computacional; e o chamado efeito riqueza. No primeiro semestre, 1,5 ponto percentual do PIB americano veio apenas desses investimentos, quase todo o crescimento de 1,6%.
Ele afirmou ainda que há sinais, embora não sejam um consenso, de que a automação pode estar afetando de forma desigual o mercado de trabalho, elevando o desemprego entre jovens, já que funções mais simples, como aquelas executadas por estagiários, podem ser mais facilmente automatizadas.
— Isso não é um consenso nos dados. Acho que tem outros motivos para o desemprego dos jovens estar acima dos adultos, mas um dos motivos seria esse da IA.
Os economistas disseram também que a guerra entre Rússia e Ucrânia acelerou a migração de reservas internacionais do dólar para outras moedas, sobretudo entre bancos centrais. Segundo Mesquita, no início de 2025 havia um otimismo generalizado com o potencial de crescimento dos EUA, o que levou investidores a concentrarem posições em ativos americanos.
Mas, ao longo do primeiro semestre, surgiram dúvidas sobre a sustentabilidade da expansão econômica, sobre a política econômica do governo e sobre a situação fiscal americana, o que enfraqueceu o dólar, arrastando outras moedas (inclusive o real).
Nos últimos dois meses, porém, ele vê uma reversão parcial desse movimento, com o humor mais favorável ao dólar diante de não haver, no curto prazo, cortes de juros nos EUA.
Efeito ‘Black November’
Mesquita disse que, considerando o mês de novembro deste ano frente à novembro de 2024, a economia ainda está “andando de lado”, com crescimento fraco. No entanto, há uma mudança sazonal em 2025, por conta da Black Friday, que já não é mais um dia de compras e se estendeu para todo o mês.
— Ou seja, novembro agora é diferente do que era novembro há três, quatro, cinco anos atrás. O que estamos vendo é novembro forte e dezembro fraco, por conta da antecipação que tem a ver com os descontos.